segunda-feira, 23 de maio de 2011

A CARTOMANTE

Gisela contava empolgada a Fernando o que ouvira da cartomante e este ria como se estivesse ouvindo uma piada do Mulita.
            __ Por que você está rindo? Então a cartomante estava errada? Você pensa em me deixar?
            __ O que quer que eu faça? Não acredito que tenha a cabeça tão fraca pra ir procurar por essas bruxarias. Se quisesse saber se tenho outra, seria só me perguntar.
            No fundo Fernando acreditava em cartomantes, mas não queria dar o braço a torcer.
            __ E você falaria a verdade se tivesse outra?
            __ Não. Mas uma cartomante não deve saber mais sobre mim do que eu mesmo. Além do mais, você nunca freqüentou o Ensino Médio? Nunca leu Machado de Assis? Quer um fim trágico como o de Rita e Camilo para nós? E se Henrique ficar sabendo? Se ela contar a alguém? Não esqueça que essa bruxa é sua vizinha e pode muito bem  espalhar essa fofoca.
            Fernando e Henrique eram amigos de infância, cresceram juntos na pequena cidade de Cruz Alta. Quando Henrique completou dezoito anos arranjou um emprego na capital e mudou-se para lá. Os dois continuaram se falando por telefone, Fernando continuou morando no mesmo lugar, tomando conta do bar do pai, que morrera e deixara para ele e sua mãe aquele pequeno estabelecimento. Quando Henrique arranjou uma namorada, enviou fotos da moça pelo celular e Fernando não escondeu ter ficado impressionado com a beleza de Gisela.
            Henrique e Gisela começaram a morar juntos e logo o rapaz desempregou-se. Quando ligou para Fernando, este não poupou esforços para arranjar uma casa e um emprego para o casal, e logo Henrique voltou à sua cidade natal com a companheira.
            As visitas eram freqüentes e Fernando não conseguia tirar os olhos da mulher do amigo, mas não sentia-se tão culpado porque era claramente correspondido com olhares e risinhos marotos.
            Agora que os personagens já foram apresentados, voltemos aos fatos : Gisela estava preocupada em relação aos sentimentos de Fernando, pois já havia três dias que ele não respondia as suas mensagens, então, foi consultar uma vizinha que dizia ler o passado, o presente e o futuro através do baralho cigano. Quando encontraram-se, às escondidas, numa tapera que ficava longe da casa de ambos, os amantes começaram a discutir sobre seu relacionamento.
            __É melhor irmos embora, Fernando, tenho que estar em casa antes de Henrique chegar do serviço.
            Despediram-se com um longo beijo, e combinaram encontrarem-se no mesmo lugar a dois dias.
            Á noite, quando já fechava o bar, Fernando recebeu uma mensagem em seu celular: “EU SEI DE TUDO!” e fotos de um beijo seu e Gisela. O número era privado e o moço arrepiou-se de pensar que a mensagem poderia ter sido enviada por seu amigo traído.
            No outro dia, bem cedo, depois de uma noite em claro, recebeu outra mensagem, essa com o número de Henrique: “VENHA ATÉ MINHA CASA COM URGÊNCIA, PRECISO FALAR CONTIGO.”
            Foi com um frio na barriga que Fernando leu a mensagem e, sequer conseguiu abrir o bar. Jogou uma água no rosto e saiu, tentando disfarçar o tremor das pernas, pensando no assunto tão urgente que o amigo queria tratar com ele.
            Lembrou-se da cartomante que Gisela havia consultado na mesma semana e resolveu consultá-la também. Na certa a própria cartomante poderia ter mandado a mensagem com a foto para arrancar dinheiro dos dois. Fingiria uma consulta para sondar a situação.
            No fundo, tentava esconder de si mesmo a vontade de desvendar o futuro. Queria mesmo é saber se o amigo  havia descoberto seu segredo.
            Chegou na frente da casa onde morava a tal cartomante, parou trêmulo em frente ao portão, hesitou por alguns instantes e tratou de tocar a campainha. Não demorou, atendeu-lhe uma mulher de olhos claros e pele “cor de cuia”. Era uma bela moça, deu-lhe um sorriso e convidou-lhe para entrar:
            __ Eu já esperava por você!
            __ Então, a mensagem...
            __ Olha, moço, não sei de mensagem alguma, previ nas cartas que você viria até minha casa hoje cedo e que eu iria ajudar-lhe a escapar de um grande problema. Tentei ler o meu futuro e você meteu-se nele.
            Não sabendo o que fazer, Fernando contou-lhe o ocorrido e pediu para consultar as cartas.
            __ Não se preocupe, moço, seu amigo tem outro assunto para tratar com você. Vá em paz, que não há nada a temer.
            Fernando sentiu certo alívio por alguns instantes, mas não conseguia controlar a ansiedade por saber o que estava acontecendo na casa de Gisela. Pagou dez reais pela consulta. O preço era vinte e cinco, mas dez reais era a única quantia que carregava consigo.
 Pensou em voltar para casa, fugir para outra cidade, mandar mensagem dizendo que estava doente...
__ Vou enfrentar esta situação. Sou homem ou não sou? __ Sussurrou para si mesmo e seguiu em frente para  enfrentar seu destino.
O casal morava numa casa simples, de madeira velha e estragada. Havia um portão quebrado e um jardim mal cuidado, tomado de mato. Passou pelo portão e bateu à porta. Henrique atendeu  e convidou-o, aos cochichos para entrar.
__Fernando, meti-me numa enrascada: Tenho uma namorada que mora perto do meu trabalho e Gisela está desconfiada. Você pode convencê-la de que eu não tenho ninguém, finja que a outra é sua namorada.
Era com grande alívio que Fernando ouvia o amigo e, como não tinha planos de separar o casal, concordou com a idéia de Henrique. Fingiu ser ele o namorado da outra moça e sua relação com Gisela acabou.


Andréa Cristina, Carla Portela, Patrícia de Almeida, Rosa Maria
           
             

             

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